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quarta-feira, 18 de julho de 2007

Fundação da fábrica Vidros em Coina


Foi a abundância de lenha da Mata da Machada e a invulgar pureza das areias que determinaram a instalação em Coina da Real Fábrica de Vidros Cristalinos.

Inicialmente pensada para ser construída no Forte da Junqueira, conforme determinação real de 11 de Abril de 1714, por contrato estabelecido com um tal João Palada, que não terá desempenhado com eficácia a sua parte do contrato, foi decidido provavelmente pelas razões logísticas acima referidas, retomar esse projecto em Coina, sob a direcção de João Butler a quem se deu a laboração por tempo de doze anos, ao mesmo tempo ordenando Sua Magestade a proibição de se introduzirem vidros estrangeiros, como fazenda de contrabando.

Esta manufactura vidreira, ficou instalada no espaço do antigo largo do mercado do gado.

Estudada pelo investigador Jorge Custódio em “A Real Fábrica de Vidros de Coina (1719-1747) e o Vidro em Portugal nos séculos XVII e XVIII”

O autor realizou escavações no período entre 1983 e 1990 à procura de “fragmentos” explicativos. E não foi difícil encontrar pedaços de vidro de tipo cristalino, espelhos e vidro verde, elementos caracterizadores da sua produção. Explicando o autor que houve uma preocupação em encontrar testemunhos de tudo o que “fosse vivo” e o resultado é o “cruzamento de perspectivas históricas, tecnológicas e arquitectónicas”.

Durante os trabalhos de escavação arqueológica foram encontrados “vários fornos e um conjunto de vestígios materiais” que permitiram reconstituir a produção do vidro nesta localidade .A riqueza dos vestígios de 28 anos de laboração, permite ao investigador afirmar que o trabalho desenvolvido na Real Fábrica tem qualidade técnica igualável ao que era feito por “italianos, finlandeses, irlandeses, venezianos e alemães”.

A qualidade da produção pareceu contudo, decair logo que a fábrica foi contratado pela coroa,principiou a correr outro influxo porque os vidros se faziam de mais inferior qualidade, sendo os mestres e os fabricantes os mesmos, e pouco a pouco foi decaindo a laboração, de sorte, que conhecidamente parecia estímulo o que principiou agrado, e eram frequentes os clamores contra a fábrica e contra os vidros.

Contra a fábrica, porque não dava vidros bastantes para o uso das gentes, dependia de que viessem de fora os mestres e materiais, e destruía as lenhas nos seus consumos em prejuízo grave dos moradores de Lisboa. Contra os vidros, por serem de inferior qualidade, poucos, caros, e de ruim feitio; e também o ofício dos vidraceiros proclamava contra a Fabrica por lhe faltarem os vidros precisos para os menesteres da sua subsistência, e surtimentos das suas lógeas.

(Representação de John Beare (1744) ou [Exposição sobre as causas do descalabro da Real Fábrica de Coina]

Houve de tudo um pouco, no decorrer da relativamente curta história desta Fábrica de Vidro em Coina, desvio de fundos e consequentes desaguisados entre sócios, tráfico de influência das manufactureiras de vidro estrangeiras, etc, até ao encerramento em 1744.

Em 1748 a manufactura de vidro viria a ser transferida para a Marinha Grande .




1 comentário:

Anónimo disse...

Caro senhor, só hoje vi este blog. Como sou estudioso da Marinha Grande e das raízes do vidro em Portugal, muito grato ficaria se me indicasse onde se encontra o documento "Representação de John Beare, de 1744 ou "Exposição...".
Antecipadamente grato,
Luís Neto